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‘Tinha um tumor crescendo dentro de mim, que eu precisava matar, e uma vida querendo sobreviver’, diz m?e que descobriu cancer na gesta??o

"Sempre quis ter uma filha menina. Naquela época,?equedescobriucancernagesta??roleta de aniversario eu estava me separando e tinha dois filhos, o Matheus de 10 anos e o Daniel, com apenas 7 meses. Era época de volta ao trabalho após a licen?a maternidade, porque sou bancária, concursada. Lembro que comecei a passar mal. E ent?o descobri que estava grávida de novo. Foi um baque, estava saindo de um relacionamento abusivo. E estava num momento em que pensei que voltaria a trabalhar, a viver. Tinha acabado de fazer minha matricula na academia, tudo. Ainda naqueles dias eu descobri que era uma menina e tudo mudou. Fiquei muito feliz. Pensei: vou fechar a fábrica com uma menininha. Mas ainda no come?o da gesta??o, o Daniel parou de mamar porque os horm?nios das minhas mudan?as interferiram no sabor do leite. Por conta disso, fui tomar banho para esvaziar as minhas mamas. E achei duas bolinhas. Adjacentes, assim, bem próximos ao meu mamilo direito. Eu já tinha um histórico familiar de cancer. A minha avó, m?e da minha m?e, morreu de cancer. Ela teve cancer aos 35 e faleceu com 40 anos. Havia ainda outras primas e irm?s dela e primas também. Cresci com esse medo do diagnóstico, chorava muito quando crian?a. Porém minha m?e e minha tia falavam para eu ficar tranquila, que eu n?o iria perdê-las pois esse tipo de diagnóstico pula uma gera??o. O que é totalmente errado, mas mostra como desconhecíamos a doen?a. Mas crian?a eu pensava, bom, tudo bem, ent?o n?o vai ser minha m?e. Mas já adulta, sabendo desse histórico familiar, quando eu achei a bolinha, mandei mensagem imediatamente para o meu obstetra. Minha gravidez era de 10 semanas, uns 2 meses. No dia seguinte, que era uma segunda-feira. ele me encaminhou para realizar um ultrassom da mama. O médico (responsável pelo exame) pediu que eu voltasse ao obstetra no mesmo dia, apesar de ter uma consulta marcada ainda naquela semana. Fui lendo os laudos no caminho, e cheguei tremendo no médico, Pedi que ele me falasse o que está acontecendo e que n?o me escondesse nada. Perguntei: vou morrer? Eu estou morrendo? Meu obstetra pegou um papel e come?ou a desenhar, mostrou como era, aproximadamente, um nódulo benigno e maligno. Ele disse que o meu caso se parecia muito com o maligno. No dia seguinte, eu procurei o mastologista. Nem sei bem porque eu fui sozinha nessa consulta, mas fui. Acho que porque acreditei que n?o ia ser nada. Eu tinha um filho de 10 anos, um bebê de 7 meses e estava grávida, tudo aos 31 anos. Meu corpo, ao meu ver, estava funcionando normal. O mastologista já indicava que eu estava com cancer. ainda faltava a biópsia para confirmar, mas ele já sabia. Ele sugeriu que eu interrompesse a gravidez pois ainda estava no come?o, algo que seria legalmente previsto, porque no Brasil é possível encerrar a gravidez quando ela apresenta risco de saúde para a m?e. Se estivesse mais no final da gesta??o, poderíamos fazer uma cesárea de emergência, mas assim no come?o n?o havia como. Os horm?nios da gesta??o estariam alimentando o tumor. O médico me disse que eu teria esse direito, me explicou tudo, disse que eu passaria por uma bomba de horm?nios, como é natural no primeiro trimestre da gravidez, disse que eu estaria alimentando o cancer e que ele iria se espalhar por meio de metástase. Nessa altura eu já sabia o sexo do bebê, pois tinha feito um exame de sangue que se chama sexagem fetal, e ali indicava que era uma menina, o meu maior sonho. Fiquei muito feliz ao saber. Quando fiz aquele primeiro ultrassom da mama, já tinha até escolhido o nome dela, Louise. Soube que o significado era guerreira famosa. Pensei inicialmente que ela n?o seria guerreira nem famosa, mas achei um significado interessante. No dia seguinte já tive que escolher entre a minha vida e a dela. Fui para casa desesperada, conversei com minha m?e e meu marido à época. Minha m?e me alertou que o cancer em nossa família sempre foi muito agressivo. Hoje sei que uma coisa n?o tem nada a ver com a outra, que o caso da minha avó aconteceu há décadas atrás, em outro lugar, mas era uma preocupa??o. Para mim, isso nunca foi uma decis?o, nunca quis interromper a gravidez da Louise. Eu pensei que, se decidisse encerrar a gravidez, ela n?o teria nenhuma chance. Comigo insistindo, nós duas teríamos uma tentativa. Claro que tive medo de morrer, teve uma época que tive a certeza que n?o ia resistir. Mas pensava: vamos viver juntas. Troquei de médico, e ainda tinha que fazer a biópsia. é um exame que tem um arp?o que lembra uma pistola, ele vai até o nódulo, puxa um pedacinho e traz para ser avaliado. Dói bastante. Até porque eu estava grávida e amamentando, ent?o meu seio estava sensível. O resultado da biópsia saiu rápido. Senti o nódulo em 18 de junho, em 3 de julho já tinha o resultado em m?os. Lá dizia "Carcinoma ductal infiltrante", ou seja: cancer de mama. O médico me disse que seria preciso fazer mastectomia e que seria feito um estudo para saber se o cancer era agressivo ou n?o. Ele me disse “vamos saber se é um pitbull ou um poodle”. Pouco tempo depois, decidi sacar meu FGTS, algo permitido por conta do diagnóstico, e passar uns dias no Nordeste, em Fernando de Noronha. N?o tinha nada que eu pudesse fazer, em termos de tratamento enquanto eu n?o completasse os três meses de gesta??o. Ent?o decidi descansar. Consegui aproveitar a viagem, valorizei muito cada minuto. Levei como se fosse a última viagem da vida. Poderia ser, poderia n?o ser. Ao pesquisar no Google, vi o relato de outras gestantes que tiveram cancer, mas nenhuma delas era sobrevivente. Uma amiga me mostrou uma, mas ela morreu dois anos depois, num retorno da doen?a. Voltei de Noronha, fui internada e fiz mastectomia. A primeira cirurgia que fiz em vida, até porque meus dois outros partos foram normais. A retirada foi total, mas a cirurgia foi ótima e eu e Louise passamos bem. Ao perguntar para o médico, se afinal era um pitbull ou um poodle, ele disse que era um pitbull filhote. Consegui pegar no come?o, antes que ele se espalhasse pelos linfonodos, algo que pode ocorrer com o cancer de mama. Ainda grávida fiz quatro sess?es de quimioterapia. N?o senti muitos efeitos colaterais, mas houve a queda de cabelo. Comecei o tratamento no quinto mês de gesta??o. Meu protocolo de quimio ocorria a cada 21 dias. Nesse tempo, eu descansava por conta da queda de imunidade, mas também fazia o enxoval, o chá de bebe da Louise. Eu tinha um tumor crescendo dentro de mim, que eu ia matar, eu tinha uma vida crescendo dentro de mim, querendo sobreviver. Demos uma pausa no tratamento pra ela nascer, eu já estava com 30 semanas de gesta??o. Ao longo do caminho, eu fazia a ecografia todas as semanas para ver o crescimento, se estava se desenvolvendo, se os nutrientes estavam passando para a placenta, porque a médica nunca tinha feito quimio numa grávida, o meu obstetra nunca tinha atendido uma gestante com cancer. Na rua, as pessoas n?o tinham no??o, faziam perguntas indiscretas, chegavam a perguntar se a bebê ia nascer careca. O médico tinha me alertado que, a partir das 30 semanas, poderia ser preciso fazer uma cesárea de emergência. Ela nasceu de 41 semanas, em 24 de janeiro de 2018, num ver?o de 40 graus de Curitiba. Tentamos induzir ao parto porque já estava com perda de líquido amniótico, e voltas do cord?o. Minha bolsa rompeu na madrugada e ela nasceu com 3,7 quilos. Nasceu bem, saudável, amamentei com uma mama só. A enfermeira fez uma foto desse momento. Até ali, era um sonho distante ter a Louise, mesmo quando ela mexia dentro da barriga. Quando eu peguei ela no colo, foi a maior emo??o da minha vida. Pude amamentar por pouco menos de um mês, e logo tive que voltar ao tratamento. Foi muito difícil, sabia que ela seria minha última filha e que eu nunca mais ia amamentar um bebê, algo que gostava muito. Gostava da sensa??o. Depois de tudo fiz mais exames que demonstraram que eu tenho muta??es que aumentam a possibilidade de eu ter tumores novamente. No ano passado, quando fiz cinco anos da última quimio da mama, meu médico me explicou que n?o terei alta da oncologia, que devo fazer exames complementares a cada seis meses. Passei por coisas muito marcantes e emocionantes, eu n?o sabia se eu ia amamentar a Luiza. N?o sabia se eu ia chegar viva no final da gravidez. Mas ainda naquela viagem à Noronha fiz uma barganha com Deus, falei que se ele me curasse eu falaria abertamente sobre o tema e quando outra mulher passasse pela mesma coisa ela ia ver minha história, de quem sobreviveu. Hoje sou palestrante e quero escrever um livro com minha história." 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